Tudo é relativo! - Abradi

Tudo é relativo!

23 de outubro de 2006 Imagem destacada padrão para postagens ABRADi

– Cesar, bom dia! Esta semana a coluna mundo.com é sua, o prazo pra entrega é amanhã!
– Amanhã!?! Putz, Elaine, você tem certeza? Entreguei minha última coluna há poucos dias.
– Tenho sim, é amanhã…

Fui conferir nos e-mails e confirmei que eu havia entregue minha última coluna há quase um mês! Para ser mais exato, há quatro semanas!

A Elaine estava certa. Eu estava errado, atrasado e com a clara sensação de que mexeram nos ponteiros do universo! Provavelmente, algum corintiano ou um colorado! Mais provável que tenha sido um colorado.

Sem muitas opções, resolvi explorar essa absurda sensação que todos nós, digitais ou analógicos, sentimos quando somos atropelados pela entidade “tempo”. Para isso, preciso voltar um pouquinho, mais ou menos uns cem anos…

Bem no início do século XX, muito antes do advento da propaganda e do ciberespaço, a física clássica estava pra lá de agitada.

A radiatividade acabava de ser descoberta, e as teorias de Isaac Newton, consagradas há mais de duzentos anos, já não explicavam satisfatoriamente os movimentos dessas novas partículas pelo espaço. Para as teorias de Newton, o espaço era um ambiente em absoluto repouso, tipo um palco inerte onde os objetos se moviam ao seu entorno.

Nesse cenário e disposto a triturar o legado do velho Isaac, surge o jovem Einstein: novinho, judeu, rebelde, seguro da sua enorme capacidade intelectual, criativo e não submisso às formas tradicionais de aprendizado.

Para não encher demais a bola do cara, dizem que ele tinha sérios problemas de memória e que na escola não gostava de aprender grego. Mas até aí…? Quem, que não seja um grego, poderia gostar de aprender tão nobre língua?

Egóico, mas brilhante, o jovem Einstein trazia ainda a característica singular de pensar sempre a partir de imagens o comportamento da natureza. Houvesse propaganda nessa época, acho que ele tinha tudo para ser um “puta diretor de criação”!

Ainda adolescente, uma imagem atormentava muito o espírito inquieto de Einstein: ele queria saber que aspecto ou forma teria uma onda luminosa para alguém que pudesse se deslocar, ao seu lado, com a mesma velocidade que ela!

Mais tarde um pouco, idade em que já teria recebido vários leões em Cannes, ainda inspirado na imagem da onda luminosa e sua velocidade constante e inatingível, Albert Einstein definiu e consagrou a teoria da relatividade e provou ao mundo que o espaço e o tempo são definitivamente “relativos”.

Na física moderna, que Einstein ajudou a consagrar, o espaço e o tempo se comportam de maneira diferente para cada um de nós em função do nosso movimento, da nossa velocidade!

Na prática, só para ilustrar, se voássemos numa espaçonave, impulsionada por uma feixe de fótons, com velocidade próxima à velocidade da luz, durante 6 anos contados a partir de um relógio dentro da espaçonave, voltaríamos à Terra e aqui teriam transcorrido algo como 30 anos (isso é um chute, mas não deve estar muito errado).

Imaginem as possibilidades que a teoria de Einstein nos reservaria para os dias de hoje.

A Marília Gabriela, por exemplo, poderia pegar essa espaçonave, fazer uma trip e resolver de vez a diferença de idade do marido. De quebra, ainda deixava o Gianecchini livre para comer quem ele quisesse por 30 anos!!!

Poderia até convidar a Suzana Viera para a viagem, cabem dois na espaçonave.

Uma voltinha de uns três meses nos traria de volta já no final do próximo mandato do presidente Lula.

Oxalá, um dia essas espaçonaves existam e a comprovada teoria da relatividade tenha aplicação de mercado!

Tudo bem, o importante é entender que a física moderna há 100 anos foi pioneira na definição do tempo como uma grandeza relativa, mas muito antes disso a mitologia grega já endeusava o tempo na figura de Chronos.

Caetano Veloso foi provavelmente o artista contemporâneo brasileiro que melhor traduziu essa dimensão de endeusamento e relatividade quando compôs a “Oração ao Tempo”, que, entre outros versos, diz:

… Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo tempo tempo tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo tempo tempo tempo…

Outro aspecto que me fascina é a potencialização da relativização por meio da evolução tecnológica e dos ambientes informacionais. Vivemos, sem perceber, o pavor à obsolescência, e isso define a necessidade absoluta de vivermos o presente. Consomem-se overdoses de informação através de uma overdose de estímulos representados pela web, celular, palm, TV, DVD, iPod, rádio, jornal, mídia extensiva, etc.

Involuntariamente, ficamos angustiados, paradoxalmente mal informados e superficiais.

Vivemos ainda um processo estranho de fusão de gerações e mistura de comportamentos em que o tempo se relativiza também nas etapas de formação e construção dos indivíduos.

Crianças e adolescentes têm acesso, pelas democratizadas tecnologias informacionais, a conteúdos adultos (pornografia, inclusive) e amadurecem num “tempo” e forma diferente de décadas passadas. Adultos, por sua vez, vivem cada vez mais e com mais saúde. Resistem a envelhecer e se fundem em atitudes e comportamentos com jovens e adolescentes.

Não tenho capacidade de fazer qualquer juízo de comportamentos, mas a percepção da relativização cada vez maior do tempo tem conseqüências que me incomodam. Infelizmente, não é raro ver meninas de 7 ou 8 anos vestidas e maquiadas como mulheres de 20, ou senhores de 60 com comportamento de adolescente!

Pensando bem, cadê minha espaçonave?!?

Cesar Paz