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Por: Juliana Junqueira Vieira
O profissional de Marketing de Conteúdo tem uma participação importante na construção de uma web mais inclusiva para pessoas com deficiência. Parte do desafio de prover acessibilidade é técnico, envolvendo usabilidade e programação. O outro fator fundamental de inclusão está relacionado ao modo de planejar e escrever o conteúdo.
O Brasil tem uma população estimada em 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência. Mesmo englobando quase ¼ dos brasileiros, a discussão sobre acessibilidade na web é relativamente recente. A Lei Brasileira da Inclusão (Lei 13.146 art. 63) entrou em vigor apenas em janeiro de 2016.
O caminho a ser percorrido ainda é longo. Em outubro, um estudo divulgado pelo Movimento Web para Todos, em parceria com a empresa BigData Corp, revelou que 99% dos sites falharam nos testes de acessibilidade para pessoas com deficiência. Até mesmo os sites governamentais oferecem barreiras de navegação.
Além de ser uma questão de inclusão social, considerar a acessibilidade nos projetos digitais pode fazer a diferença também nos negócios. Para muitas empresas, é a chance de interagir com um público consumidor pouco impactado por suas marcas na internet.
Desafio operacional
Sob a perspectiva do agente digital, prever a acessibilidade para pessoas com deficiência é um desafio ainda mais complexo. As funcionalidades e as boas práticas devem ser previstas ainda na fase do planejamento. É necessário conscientizar o cliente da importância e, algumas vezes, que o trabalho pode acarretar em orçamento extra ou alguns dias a mais no cronograma.
A equipe também precisará de apoio e de incentivo para seguir os padrões definidos pelo Consórcio World Wide Web (W3C). Embora as diretrizes considerem uma ampla diversidade de necessidades especiais, um projeto digital pode não ser acessível a todos. Por isso, o engajamento dos profissionais é essencial para executar o fundamental muito bem e sem erros.
O profissional de Marketing de Conteúdo tem uma participação ativa em várias etapas do trabalho. O W3C também estabeleceu as principais diretrizes de acessibilidade de conteúdo web ou WCAG (Web Content Accessibility Guidelines). As orientações incluem, além do conteúdo para site, a produção de diversos outros formatos, como video, podcasts, redes sociais, infográficos, entre outros.
Confira a seguir as melhores práticas para a produção de um conteúdo acessível às pessoas com deficiência.
– na etapa do planejamento, você pode avaliar se é pertinente desenhar uma persona representando uma pessoa com deficiência. Facilitará a todos entender as necessidades e os desafios dela e, ainda, pode direcionar na definição dos melhores formatos de conteúdo.
– não se deve mais usar os termos pessoas com necessidades especiais, portadores de deficiência ou deficientes. O termo correto e atual é pessoa com deficiência.
– prefira escrever um conteúdo que seja compreensível por pessoas com nível fundamental completo. Mesmo em situações em que o público tem nível superior ou a informação é técnica, sempre forneça mais detalhes.
– o texto deve ter uma estrutura simples para ser de fácil compreensão. Opte por frases e parágrafos curtos e na ordem direta. Evite usar jargões ou abreviações e sempre explique os termos poucos usuais.
– planeje escrever textos curtos. Um recurso interessante é dividir o conteúdo em blocos, alterando parágrafos com frases simples e informações organizadas em marcadores ou listas.
– sempre que possível evite usar metáforas. Pessoas com deficiência cognitiva, como em alguns espectros do autismo, podem não entender o significado dessa ou de outras figuras de linguagem. Isso sem contar que prejudica a interpretação feita pelos avatares de Libras.
– acessibilizar um conteúdo não significa torná-lo maçante ou antiquado. É permitir que mais pessoas riam das suas piadas. Se você não quiser comprometer a experiência do público sem deficiência, uma alternativa é fazer uma versão com acessibilidade e outra regular. É possível, por exemplo, disponibilizar um link na página para a versão acessível do conteúdo.
– formatos diferenciados de conteúdo, como um e-book, também podem ser acessíveis. O programa Adobe Acrobat PRO permite a criação de documentos no formato PDF já formatados para essa função. No menu principal, clique em Ferramentas e em Assistente de Ação. Na lista de ações, selecione Tornar Acessível.
– o Windows também oferecesse essa funcionalidade. É possível salvar com acessibilidade os arquivos de programas como word, power point e excel.
– os conteúdos produzidos em formato de áudio, video, imagem, infográfico ou tabela devem ser acompanhados da transcrição em texto. Não é necessário descrever imagens ilustrativas, como bullets ou bordas. Foque naquelas que complementam o conteúdo em texto.
– a descrição da imagem pode seguir a fórmula: formato + sujeito + paisagem + contexto + ação. Embora exista a opção de texto alternativo nas redes sociais, é recomendável incluir também #pracegover e #pratodosverem. Pessoas com baixa visão e daltônicos também são beneficiados por essa explicação.
– descreva também os gifs. Se a animação for meramente recreativa, opte pela transcrição mais sucinta. Se o conteúdo for informativo, você pode detalhar frame por frame.
– não é necessário descrever os emojis. Muitos aplicativos já reconhecem a figura e fornecem um texto explicativo ao leitor de tela.
– os conteúdos em vídeo devem ter audiodescrição, legenda e Libras (avatar digital ou intérprete humano). Contemplar legenda e Libras é importante porque muitos surdos não são oralizados e alfabetizados na língua portuguesa. Eles compreendem apenas Libras ou a língua de sinais do seu país.
– a integração com a área de usabilidade é fundamental. Em textos para site, hotsite ou landing page, evite usar expressões como “saiba mais” ou “clique aqui”. Os cegos ou pessoas com baixa visão utilizam uma ferramenta de navegação sonora e pode ficar perdida na página. Os hiperlinks nos textos devem indicar o destino do link. É melhor optar por call to action definidos como “acesse a página x”.
– lembre-se de aplicar essa recomendação em todos os textos do site, como conteúdos mensagens de erro e orientações para o preenchimento de formulários.
– o trabalho conjunto continua na etapa da programação. Organizar a estrutura semântica do conteúdo em header, sub-header e parágrafo permite que a informação seja consumida de forma lógica pelas ferramentas de leitura. Vale investir um tempo nesta hierarquização;
– para checar a fluidez do texto, uma sugestão é validar o conteúdo com leitores de tela. Você pode utilizar esses programas: NVDA (Windows), Voice Over (IOs), TalkBack (Android) e Orca (Linux).
A primeira vista, pode parecer uma tarefa árdua prever a acessibilidade em todos os projetos digitais. A recomendação do Movimento Web para Todos é colocar cada um dos itens na sua rotina de trabalho ou da sua equipe. Há, também, várias ferramentas disponíveis para facilitar.
As deficiências
A deficiência apresenta-se em diferentes nuances. Algumas delas nem sempre são evidentes. Pode ser apenas uma ou a combinação de limitações como: cegueira e baixa visão, surdez e baixa audição, dificuldades de aprendizagem, deficiência intelectual, limitações cognitivas, limitações de movimentos, fotossensibilidade ou incapacidade de fala. Os idosos também fazem parte do grupo por causa das incapacidades resultantes do processo de envelhecimento.
Ferramentas
Algumas ferramentas úteis para ajudar o trabalho da sua equipe:
Audima: conversor de conteúdo para áudio
VLibras: tradutor de conteúdo para a Língua Brasileira de Sinais
NVDA: ferramenta de leitura de tela para windows. No caso de Mac, ativar o voice over pelo atalho “command+F5”.
http://www.nvda.pt/pt-pt/downloads
W3C Brasil: capítulo Brasil do Consórcio World Wide Web (W3C)
http://www.w3c.br/traducoes/wcag/wcag21-pt-BR/
ou a sua versão resumida
* Juliana Junqueira Vieira é diretora de estratégia na Tot Conteúdo Digital. É membro do comitê de marketing de conteúdo da ABRADi e participou da criação do Guia de Marketing de Conteúdo.
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