Medo e desprezo. São esses os sentimentos mais comuns entre os big players da mídia americana quando o assunto é Spot Runner (spotrunner.com). Capitalizado por um respeitado grupo de investidores e com participação do Grupo WPP e Interpublic, esse novo sistema 100% online, possibilita que anunciantes (pequenos ou grandes) e agências, criem seus próprios comerciais, vasculhem, brinquem, escolham e reservem – on demand – a grade de programação das emissoras, além de realizarem o upload de seus próprios filmes. De repente, com poucos passos, tudo fica pronto. Campanha feita, produzida, agenciada e colocada no ar pela Internet. Dá pra imaginar? Melhor ou pior de tudo: a custos baixíssimos. Os vídeos com custo médio de US$ 500 são pré-produzidos e relativamente honestos para um padrão local. Para deixar o negócio ainda mais instigante, de uma maneira irritantemente simples, o cliente escolhe entre milhares de opções, aquela que melhor se encaixa ao seu negócio. Ele também configura o tipo de locução, edita o conteúdo, cola seu logotipo e mágica! O filme sai do forno direto para a grade local das emissoras como um texto feito no word. As agências, diferentemente dos clientes “sem agência”, podem usar o sistema para comprar em real time programações locais de canais como a CNN, Bravo, ESPN, entre outras. A capilaridade do serviço também impressiona, já que a empresa, localizada na Califórnia e com três anos de vida, possui excelentes negociações de mídia em todos os estados Americanos. Uma vez feita a compra, o fluxo operacional faz tudo e após a exibição do filme, o anunciante recebe um detalhado relatório de checking acompanhado de todos as características da audiência impactada. Segundo Steve Hayden, vice chairman da Ogilvy & Mather Worldwide, “O novo modelo do Spot Runner é um breakthrough sem precedentes na mídia eletrônica e mudará por completo o mundo da propaganda local”. Eu concordo. Assim como o Shop Tour – de repente – fez sentido a milhares de pequenos anunciantes, os colocando no ar pela primeira vez, da mesma maneira que a Gol pôs para voar milhares de passageiros de ônibus, o Spot Runner põem no jogo segmentos absolutamente virgens e desperta neles uma nova arma. Mas e os grandes? O sistema, em princípio, certamente não foi feito para eles, mas mostra que, em breve, novos furacões podem chacoalhar a indústria. Vai que o Google resolve comprar o Spot Runner, potencializa o negócio e cria um mega bureau de mídia online? As agências produzem seus filmes e usam o sistema e sua enorme negociação para subir seus vídeos. Será que o efeito Napster começa a olhar para o mundo da propaganda? Até que ponto esse formato abre idéias e caminhos? Quem ganha, quem perde? As produtoras certamente ganham. Se o cliente tiver acesso e se acostumar a um sistema como esse e sua verba publicitária não for gigantesca, por quê contar com mais um intermediário? O anunciante compra a produção, escolhe a grade e bingo! Claro, tudo não passa de especulação. Principalmente se olharmos o Brasil e as cristalizadas características que pontuam as relações entre nossas agências, anunciantes e veículos. Mas, vendo o barulho gerado lá fora, acho o assunto no mínimo digno de reflexões. Além de tudo, nossa cultura valoriza o status e definitivamente não idolatra o Self, como os americanos. Mesmo podendo comprar passagens aéreas pela Internet, a grande maioria do mercado corporativo nacional ainda insiste em usar agências de viagens – condição já inteiramente superada em muitos lugares do mundo. Também adoramos frentistas e, talvez, nunca saibamos arrumar nossos carros sem a ajuda de um mecânico. O self está introjetado no americano desde a maternidade. É natural que sistemas que coloquem o usuário no comando sejam mais aceitos lá. Recomendo uma visita ao site do Spot Runner, vejam a simplicidade e brilhantismo de um sistema alternativo que começa a encantar os americanos e coloca uma deliciosa pitada de pimenta nas discussões sobre os novos rumos da mídia. Ou de uma nova mídia? Quem sabe um dia chamada de Self media?
Rafael Payão